O esconderijo impossível: grupo viveu em shopping abandonado por 4 anos sem ser descoberto

Por Miguel Barradas, repórter especial do TakaMassa

Entre as paredes silenciosas de um centro comercial abandonado nos Estados Unidos, um grupo de jovens arquitetos viveu o que muitos chamariam de loucura — e outros, de uma façanha genial. Durante quatro anos inteiros, de 2003 a 2007, eles construíram uma verdadeira casa secreta dentro de um shopping center abandonado em Providence, Rhode Island, sem que ninguém soubesse da sua existência.

O responsável por essa história quase inacreditável foi Michael Townsend, artista e arquiteto, que junto com um grupo de amigos decidiu transformar um espaço esquecido em algo mais do que concreto e pó.

🧱 Uma casa no meio do nada

O plano era ousado. Dentro do Providence Place Mall, uma área fechada e esquecida do público, eles começaram a construir uma casa improvisada, com paredes de gesso, sofás, camas e até um televisor. A ideia? Criar um “lar urbano secreto”, longe dos olhos do mundo — mas dentro dele.

Segundo Townsend, a motivação veio após ver anúncios onde o shopping se apresentava como “um lugar onde as pessoas vivem, compram e sonham”. Ele decidiu levar isso ao pé da letra.

“Era uma crítica artística e uma experiência social ao mesmo tempo”, contou Michael anos depois.

🔇 Vida secreta em plena cidade

O grupo entrava e saía discretamente, usando passagens de serviço e escadas raramente patrulhadas. A casa, de cerca de 70 metros quadrados, tinha tudo o que precisavam — menos canalização. “Íamos à casa de banho nos cafés”, explicou Townsend. Durante anos, viveram parcialmente no local, chegando a passar longos períodos, especialmente à noite.

Para evitar serem descobertos, não faziam barulho e mantinham o espaço sem qualquer sinal visível do lado de fora. A segurança do shopping nunca suspeitou de nada. Até que…

🚨 O fim do segredo

Em 2007, a aventura terminou. Durante uma ronda de rotina, um segurança do shopping encontrou a estrutura e alertou as autoridades. Michael foi detido, acusado de invasão de propriedade. Curiosamente, o juiz considerou o caso tão peculiar que, apesar de declarar Townsend culpado, acabou por não o condenar à prisão. O artista ficou proibido de voltar ao local.

A “casa” foi demolida pouco depois. Mas a história já tinha entrado para o imaginário da cidade — e da internet.

🎭 Arte, protesto ou sobrevivência?

A iniciativa dividiu opiniões. Uns viam aquilo como uma forma criativa de ocupar o espaço urbano. Outros, como uma infração às regras e à segurança.

Townsend insiste que nunca foi sobre vandalismo, mas sim sobre questionar a forma como usamos os espaços urbanos e como as cidades modernas são construídas em torno do consumo e não da convivência.

🕯️ Uma lenda urbana moderna

Hoje, esta história sobrevive como uma das mais bizarras e intrigantes aventuras urbanas dos últimos tempos. É um lembrete de que, mesmo em plena era da vigilância e do controlo, ainda há espaço para a imaginação, a rebeldia e — por que não — a arquitetura como forma de poesia.


📌 Miguel Barradas é repórter de rua e cronista de histórias improváveis. Especialista em narrativas que revelam o lado oculto do cotidiano, acompanha há mais de 10 anos as fronteiras entre arte, sociedade e sobrevivência urbana.

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